Mohamed El-Erian, o diretor executivo da gestora de fundos PIMCO, refere-se, em entrevista ao Expresso, a uma "reversão do momento Volcker" em curso.
Um conjunto de factos ocorreu recentemente que aponta no sentido de uma mudança na política monetária de alguns dos bancos centrais mais importantes do G7 (grupo das sete economias mais desenvolvidas) no sentido de impedir que uma recaída na recessão possa vir a ocorrer. Esta mudança vai muito além do recurso a medidas de política monetária não convencionais como o "alívio quantitativo" (quantitative easing, em inglês, que a Fed e o Banco de Inglaterra têm tido em prática no decurso desta crise sistémica).

O "momento Bernanke"?


Na semana passada, a Reserva Federal (Fed) norte-americana decidiu definir uma meta de desemprego, fixada em 6,5% da população ativa dos EUA, como limiar abaixo do qual poderá considerar a subida da taxa diretora de juros (fed funds rate). Até se atingir esse limiar mais baixo (atualmente está em 7,7%) ou até a inflação projetada num horizonte de um a dois anos chegar aos 2,5% (0,5 pontos percentuais acima da regra de longo prazo), os juros manter-se-ão próximo de 0%. É a primeira vez que é definida uma tal regra ligando explicitamente um dado nível de desemprego à gestão da taxa de juros. Provavelmente este será o "momento Bernanke", do nome do presidente da Fed, Ben Bernanke, por oposição ao "momento Volcker", do ex-presidente da Fed Paul Volcker, nomeado em agosto de 1979.
Em conferência de imprensa, Ben Bernanke sublinhou que a Fed não olhará, apenas, para a taxa de desemprego, mas também para outros indicadores do mercado laboral, como os abandonos definitivos da procura de emprego. No campo da monitorização da inflação, os esclarecimentos do presidente da Fed deixaram muitas interrogações nos analistas de mercado.
Por outro lado, o chanceler do Tesouro britânico, o ministro George Osborne, admitiu, também, na semana passada, a discussão do abandono do objetivo de 2% de inflação como guia na política monetária. "Há um debate sobre o futuro da política monetária - não só no Reino Unido, mas em vários países. Há muito de inovador a ocorrer no mundo", afirmou Osborne. As afirmações do ministro britânico seguiram-se a declarações do futuro governador do Banco de Inglaterra, o canadiano Mark Carney, que sublinhou a necessidade dos bancos centrais abandonarem as metas de inflação e de se concentrarem em metas de PIB nominal na condução da política monetária.

Japão: a política monetária como tema eleitoral


Mais recentemente ainda, nas eleições legislativas que ocorreram este domingo no Japão, Shinzo Abe, líder do Partido Liberal Democrático, conseguiu constituir uma super-maioria de 2/3 na Câmara Baixa do Parlamento nipónico, através de uma aliança com um pequeno partido (New Komeito), desalojando o governo do Partido Democrático. Abe, que foi primeiro-ministro há duas legislaturas atrás, ganhou estas eleições com um programa económico e financeiro - a que alguns analistas locais alcunham de "abenomics" - que pretende combater a deflação e o iene forte, avançando com uma política monetária "acomodativa", forçando, se necessário, a alteração da política do Banco do Japão.  Hoje mesmo, com a vitória ainda fresca, Abe afirmou explicitamente: "É pouco habitual que a política monetária seja tema eleitoral. Mas manifestou-se um forte apoio público aos nossos apelos para se combater a deflação. Espero que o Banco do Japão tome isto em consideração". Um dos objetivos é duplicar a meta de inflação dos atuais 1% para 2%.

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